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Ética: Ajuste de Foco em Tempos de IA


Introdução

Em um mundo cada vez mais orientado para a rapidez e a inovação, os princípios de ética e compliance muitas vezes são relegados ao segundo plano, eclipsados por duas visões distorcidas. De um lado, temos uma sociedade que, impulsionada pelo desconhecimento ou pelas pressões econômicas, se inclina a optar por produtos e serviços que comprometem a ética em favor do custo-benefício e da modernidade.

Esse comportamento, frequentemente impulsivo e de visão curta, fortalece a percepção entre os gestores de que a ética e o compliance são questões periféricas, pois, na visão de muitos, "ninguém realmente se importa" com eles.

Em contrapartida, há uma tendência mercadológica que percebe a ética e o compliance como meros instrumentos de branding ou como chaves para atrair investimentos, relegando-os a um segundo plano a menos que proporcionem um retorno claramente definido sobre o investimento.

Esta última abordagem não só banaliza a verdadeira essência desses princípios, mas também dá margem a práticas de "washing", como o greenwashing ou o pinkwashing, que podem levar a crises de reputação a médio prazo.

Isso é especialmente importante na revolução causada pela IA.

IA: Oportunidades, Riscos e Responsabilidades

A era da Inteligência Artificial traz consigo imensas oportunidades, mas também riscos significativos. Um dos mais discutidos é a agência da IA, ou seja, sua capacidade de agir com uma autonomia crescente. Se não compreendida e gerenciada adequadamente, essa autonomia pode fazer com que sistemas operem de maneira imprevista, tomando decisões que não estejam alinhadas com os valores ou responsabilidades da empresa.

É aqui que surgem conceitos cruciais como Explicabilidade da IA (XAI) e IA Robusta e Interpretável (RAI). Ambos se referem à capacidade de entender e justificar as decisões tomadas pelos sistemas de IA garantindo transparência em suas operações.

Infelizmente, muitos executivos e conselheiros têm uma compreensão superficial da IA, com suas visões frequentemente turvadas por narrativas extremas que ora demonizam, ora idealizam excessivamente a tecnologia. No atual ambiente de negócios, a responsabilidade vai além do desempenho da IA e abrange a capacidade de entender e comunicar suas decisões de maneira clara.

A Verdadeira Natureza da Tecnologia

Ao refletirmos sobre a interação entre humanos e tecnologia, é essencial reconhecer que a tecnologia, apesar de ser uma extensão do humano, tem suas próprias características e induções. Um exemplo pertinente é o ultrassom neonatal, que, apesar de seus inúmeros benefícios, alterou a maneira como percebemos a gestação e tomamos decisões a respeito dela.

Note que o ultrassom neonatal é uma espécie de “janela do útero”. Por milênios, a humanidade precisou esperar o nascimento dos filhos para confirmar seu sexo e avaliar seu estado de saúde. Nos últimos dois séculos, as mulheres precisaram fazer exames baseados em raios X, que eram nocivos se usados em excesso. É historicamente recente o uso do ultrassom neonatal, que permitiu não só maior periodicidade como mais precisão.

A questão aqui é que essa “janela para útero” causou mudanças na forma como interpretamos a realidade, como prega a mediação hermenêutica de Don Ihde, que nos leva a entender que a tecnologia, ao se entrelaçar com o humano, muda nossa percepção e interpretação do mundo. O feto – mesmo tendo poucos milímetros – foi interpretado na tela em tamanho natural, com expressões e movimentos, o que potencializou mudanças profundas.

Veja: o feto era parte intrínseca da mãe. O ultrassom a tornou um receptáculo para um ser independente com nome, sobrenome e prontuário médico, apenas ainda “não nascido”. Pessoas passaram inclusive a decidir se a gravidez deveria continuar mediante o que os exames mostravam, ou seja, não esperam: elas escolhem.

Como exemplo, há 10 anos no Reino Unido, havia um número assustador de abortos por causa de lábio leporino. Com o advento de engenharia genética, será cada vez mais comum não mais escolhermos os filhos conforme se desenvolvam, e sim fabricá-los conforme nosso critério.

As empresas, em sua essência, também são tecnologias e, como tal, não são intrinsecamente boas ou más, mas definitivamente não são neutras. Em tempos de revolução da IA, considero importantíssimo que conselheiros e executivos dediquem tempo para educação sobre as interações entre homem e tecnologia e os incentivos resultantes.

Esse conhecimento é inclusive um dos serviços que ofereço pela Humanos Mais Tecnologia na forma de palestras e cursos, os quais já fui agraciado em prover para magistrados do Tribunal Regional Federal da 5ª Região - TRF5 e para um público de advogados da AAA Inovação e Thomson Reuters Brasil , ambos juntos com a Nau d'Dês, e agora fazendo parte do currículo do Ciclo Empreendedor Universitário.

A transformação do mindset é visível, e confere um inédito valor agregado aos executivos que passaram pelo conteúdo.

Conclusão

Neste panorama de rápida evolução tecnológica, é imperativo que conselheiros e executivos compreendam profundamente a importância de ética e compliance em IA. Os desafios e oportunidades que a Inteligência Artificial apresenta são inegáveis, mas é crucial que permaneçamos fiéis aos princípios éticos e de conformidade ao navegar por este novo território.

Esses temas não devem ser relegados a meras ferramentas de branding ou atração de investimentos, mas devem ser vistos como princípios fundamentais que guiam a integridade e a responsabilidade das organizações.

Como primeiras ações a serem tomadas, recomendaria as seguintes:

  • Investir em treinamentos e workshops focados em ética e compliance em IA para todos os executivos e conselheiros da empresa.


  • Estabelecer comitês de revisão ética para avaliar todas as implementações de IA garantindo que estejam alinhadas com os princípios éticos da organização.


  • Promover colaborações com especialistas externos em ética e tecnologia, garantindo uma visão diversificada e atualizada sobre os desafios e oportunidades no campo da IA.

Por fim, não percamos tempo avaliando tecnologia e humanos de forma distinta. Isso é contraproducente. Avaliemos o híbrido que nasce da união dos dois, e os incentivos que resultaram de tal união. Aqui estará a chave para uma correta governança em tempos de IA.






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