"...pessoas que se dedicam a produzir tais relatos do futuro tenderão a apresentar uma (incurável e irremediável) neomania, o amor pelo moderno como um fim em si mesmo.
Esta noite me encontrarei com amigos em um restaurante (as tavernas existem por, pelo menos, 25 séculos). Lá usarei talheres, uma tecnologia da Mesopotâmia que pode ser qualificada como um “aplicativo matador”, considerando-se que esses utensílios me permitem destrinchar a perna de um carneiro poupando meus dedos de queimaduras. Beberei vinho, um líquido que vem sendo consumido por, pelo menos, seis milênios. O vinho será servido em taças, uma inovação reivindicada por meus compatriotas libaneses como proveniente de seus ancestrais fenícios, e se alguém tiver discordâncias quanto a essa origem, podemos dizer que os objetos de vidro vêm sendo vendidos por eles como ornamentos há pelo menos 2.900 anos.
Se alguém, em 1950, tivesse previsto uma reunião tão íntima, teria imaginado algo completamente diferente. Então, graças a Deus, não estarei vestido com um terno sintético brilhante em estilo espacial, consumindo pílulas nutricionalmente otimizadas enquanto me comunico com meus companheiros de jantar por meio de telas. A comida será preparada com uma tecnologia muito arcaica (fogo), com o auxílio de utensílios de cozinha e instrumentos que não sofreram alterações desde os romanos. Estarei sentado em um dispositivo de (pelo menos) 3 mil anos de idade, vulgarmente conhecido como cadeira. E não irei ao restaurante com a ajuda de uma motocicleta voadora."
Trecho de Antifrágil, de Nassim Taleb.
O autor cutuca com maestria previsões ousadas sobre as transformações que advirão com as novas tecnologias.
Sim, elas virão, mas entremeadas ao valor de tudo o que resiste à prova do tempo, algo que a paixão pelo novo pode nos fazer desperceber :)
Por Haendel Motta
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