Imagem do excepcional Tute.
Pessoas para nos ensinar qualquer tipo de assunto são muitas hoje, mas quem nos ensina a não saber?
Os antigos mestres da escola zen perguntavam-se isso, enquanto Lacan fala em um saber não-todo, o conhecimento como algo incompleto (ainda que, a certa distância, pareça completo).
Não se trata de elogio à obscuridade ou à ignorância, mas de respeitar o além de nossa "ilha de conhecimento" – essa que, segundo Marcelo Gleiser, quanto maior fica, mais amplia as margens que tocam no oceano do que ignora.
Taleb também aborda isso no Cisne Negro: cresce nossa biblioteca, cresce junto tudo o que ainda teríamos para ler, nossa "antibiblioteca".
Lembrar ainda do efeito Dunning-Kruger: quem mais sabe tende a achar que sabe pouco; quem menos, a achar que sabe muito...
Então talvez o ponto seja avançar rumo a formas de entendimento menos apegadas a processos de informação.
Informação que, fazendo-se consistir num bloco de sentido, conduz a uma verdadeira inflação do imaginário, para utilizar um termo de Lacan.
Inflação do discurso-todo, empenhado em, nos dizeres de hoje, lacrar.
O que significa ou bem perder a capacidade de dizer não sei, ou bem encobri-la, com boa ou má-fé, por meio de um discurso arredondado.
Pois então... quantos diplomas (e não apenas certificados de fim de semana) serão necessários até que nos tornemos doutos em ignorar e, mais ainda, capazes de desinflacionar nossa imagem no espelho, convivendo e conversando com mais naturalidade e menos agressividade :)
Por Haendel Motta
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