Bom, pelo menos no que diz respeito a psicanálise, é no manejo da transferência, tal como Freud o formula, que se encontra o instrumento principal de trabalho de um tratamento – algo extremamente ligado ao contexto em que o analista se vê incluído, e não meramente apoiado no que lhe é dito durante as sessões pelo paciente.
Já um terapeuta-robô opera sem qualquer notícia do contexto em que está imerso, permanecendo aderido ao trilho da palavra que puxa outra palavra, incapaz de manejar intervenções-desvios, como aquelas alavancas que fazem os trens mudarem de rumo.
Ainda assim, alguém que busque ajuda psicológica com um terapeuta-robô, tendo em vista os limites desse trilho da palavra, poderá obter:
- informações sobre seus questionamentos;
- orientações descritivas de práticas ou métodos para minimizar os sintomas dos quais se queixa;
- o efeito de alívio gerado por um desabafo.
Lacan diz que "a interpretação do analista deve ser poética", ou seja, um ato singular que conjuga contexto e formulação.
Mas claro que a pesquisa em processamento de linguagem natural continuará avançando, e que cada vez mais robôs-terapeutas estarão disponíveis por aí – sempre confinados ao trilhamento do que lhe é entregue em palavras, ou amparados por um sistema sempre controverso de tradução de reações e expressões humanas, posto que não há parâmetros universais para eles.
Então pode a máquina conduzir um tratamento psicológico?
Sim, pode ser útil para despertar interesse por esse caminho, ajudar a triar opções entre as muitas linhas terapêuticas disponíveis e, sobretudo, encorajar a dar o próximo passo, através do entendimento de que, para sistemas biocomplexos como nós, nada como a companhia de um semelhante :)
Por Haendel Motta
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