Imagem: Vadym Pastukh, 2022.
Considerando o fator de proximidade com os liderados, podemos classificar as modalidades de liderança como diretas e indiretas.
São dois caminhos distintos para mudar a forma de pensar e agir das pessoas, igualmente válidos, que algumas vezes eles se cruzam. Ou seja, existem líderes que atuam direta e indiretamente, embora nem sempre ao mesmo instante.
Compreender as diferenças entre as duas modalidades, e as implicações de seguir cada caminho, é outro passo importante para o entendimento do significado da liderança.
A liderança direta
A liderança direta acontece quando o líder cria ou se aproveita de estruturas que é capaz de controlar (ao menos parcialmente) e, através delas tenta produzir a mudança desejada.
Dois exemplos óbvios são liderança executiva e a liderança política, mas nem de longe estão limitados a essas áreas.
Ela pressupõe que existam funções dentro de uma hierarquia reconhecida, embora não precise haver uma organização formal e muito menos que toda a rede de liderados e apoiadores esteja dentro dessa hierarquia.
É indispensável, porém, que ocorram contatos pessoais frequentes entre o líder e seus liderados mais próximos, assim como com outros círculos da rede, ainda que mediados pela tecnologia.
Uma das características da liderança direta é o feedback quase imediato, do líder para os liderados, e dos liderados para o líder.
Quando dizemos que um líder está em sintonia com seus liderados, estamos traduzindo a riqueza desse feedback. O líder percebe os sentimentos e os estados de ânimo de seus seguidores, ajustando as ações e o discurso de modo a suprimir emoções negativas e reforçar emoções positivas.
Da mesma forma, os liderados refletem as emoções do líder; líderes à beira de um ataque de nervos produzem uma liderança que pode variar desde a agitação até a histeria.
Sobram exemplos à nossa volta todos os dias.
Winston Churchill era visto na Inglaterra como um político medíocre, beberrão, mulherengo e trambiqueiro. Entretanto, quando o país enfrentava o risco do esmagamento pelos nazistas, foi ele quem teve a coragem de assumir a responsabilidade de prometer ao povo “sangue, suor e lágrimas”.
Salvou não apenas a Inglaterra, mas o mundo ocidental como o conhecemos hoje. Não tinha grandes ideias, nem visão. Mas foi capaz de arregimentar os esforços da população, da indústria e das forças armadas para enfrentar e vencer um desafio jamais visto.
Alguns desses líderes são quase anônimos e o que enxergamos são apenas o resultado de suas ações. Por exemplo: procure conhecer a história de organizações como a Embraer e a Embrapa. Por trás delas você encontrará, com toda a certeza, líderes diretos, capazes de fazer o possível e o impossível para dar vida às suas convicções.
A liderança indireta
A liderança indireta é exercida por meio de obras e ideias. A sua manifestação mais evidente é a dos intelectuais, artistas, acadêmicos e cientistas.
Ela pressupõe que existam canais de comunicação fortes e redes que propaguem essas obras e ideias. É indispensável, porém, que um grupo de personagens adote, consolide, estruture e difunda intencionalmente a obra ou a ideia-mãe.
Sob esse aspecto, a internet tornou facílima a propagação de obras e ideias; entretanto, ao mesmo tempo, aumentou exponencialmente a competição entre elas – a que obras dar atenção, a que ideias dedicar nosso tempo? São questões de resposta cada vez mais difícil, e que atormentarão por décadas os futuros líderes.
O fato é que o líder indireto perde progressivamente o controle sobre o que produz, mesmo que saiba dirigir sem hierarquia. É impossível prever as consequências a médio e longo prazo daquilo que se criamos hoje, pois qualquer palavra ou ato pode ser distorcido, transformado, agregado, multiplicado, reinterpretado sem que tenhamos autoridade sobre esse processo.
Na filosofia, Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, e muitos outros, forjaram a nossa civilização. Seus escritos atravessam séculos, são estudados e moldam comportamentos ainda hoje, mesmo que nem sequer tenhamos consciência disso.
Mas apenas porque seus seguidores se dedicaram, por vezes às custas da própria vida, a defender e propagar suas obras e ideias.
Sigmund Freud transformou a percepção que temos da alma humana. Mas só persiste porque, atrás dele, nasceram as estruturas de formação e governança da psicanálise.
Jesus Cristo, independentemente da discussão de crenças religiosas, percebeu as grandes transformações exigidas pela passagem de uma sociedade nômade para uma sociedade agrária e urbana e propôs códigos de comportamento capazes de conduzir a uma convivência harmoniosa entre as pessoas, com a promessa da salvação.
Mas o cristianismo só persistiu porque havia apóstolos.
Albert Einstein propôs equações que ainda hoje engajam as mentes dos cientistas para comprovar ou negar sua visão sobre o comportamento da matéria. A sua permanência deve muito ao fato de que muitas de suas previsões se confirmaram, e outras continuam tirando o sono dos físicos empenhados em prová-las ou contestá-las.
O que todos esses personagens tinham em comum é a capacidade de olhar o mundo, esquecer as restrições do momento, e criar possibilidades inéditas.
Medir os impactos e resultados da liderança indireta é muito difícil. O feedback é mais demorado e menos claro, e vários líderes indiretos costumam ter objetivos de prazos mais longos, ou até indefinidos. Alguns sequer se mostram preocupados em defender as próprias obra e ideias.
Por Fernando Ximenes
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Abordamos sobre Liderança durante o mês de maio, trazendo para reflexão um dos artigos de Fernando Ximenes. E você que nos lê, está convidado a deixar aqui sua opinião e eventuais dúvidas.
Nosso próximo artigo será a Conclusão e referências utilizadas. Gostou do artigo? Divulgue para mais pessoas, vamos compartilhar conhecimento!
É o #CEUcomVoce.
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