Ainda existem lugares desconhecidos? Resta algum trecho do planeta ignorado pelos maps? A impressão é de que não, mas a resposta é sim. E como espaço e tempo não se dissociam, mesmo o já mapeado pode mudar de figura amanhã. O futuro é, por excelência, terra desconhecida.
Futuro: não imagine uma dimensão já determinada que "premonições" teriam acesso, pense um ponto-aberto no presente, sujeito a possibilidades inovadoras e acontecimentos imprevistos, bons e ruins - em geral ruins, pois detestamos lembrar que nos falta controle.
"Só se gerencia o que se controla", pilar fundamental da administração: planejamento, ferramentas, indicadores etc. Tudo vai bem enquanto a sociedade é sólida, lenta e linear, e o ponto-cego dos imprevistos é apenas um vilão ocasional contra o qual se deve aperfeiçoar com mais empenho o mapeamento do mundo.
Teoria da Complexidade: a sociedade fica veloz, líquida e exponencialmente complexa, desafiando uma tradição de ferramentas gerenciais. Se antes o ponto-cego devia ser conhecido até se tornar esgotado, hoje deverá ser admitido como parte imprevisível de um sistema complexo.
1992: Ralph Stacey, um dos teóricos da complexidade, publica Managing the Unknowable (Gerenciando o 'Inconhecível'). Repare, o ponto que desafia nosso controle passa de 'lugar desconhecido/a conhecer' para 'lugar impossível de conhecer/a se saber lidar'.
Isso faz diferença: de gerentes de pesados navios, incapazes de controlar tudo, passamos a navegantes capazes de realizar feitos, advertidos quanto aos limites de controle de um horizonte marítimo complexo.
Por fim: vale dar crédito a esse ponto de abertura cuja imaginação é sempre maior que a de nossos planos. O novo manager é inovador não por pensar sozinho, mas por saber dar ouvidos à colaboração e às circunstâncias. De chefe controlador passa a líder, capaz de conduzir equipes mesmo rumo ao desconhecido.
Por Haendel Motta
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